Até o século XII, as condições gerais de higiene e saúde eram muito
precárias, o que tornava o índice de mortalidade infantil muito alto.
E, ainda sim, as crianças que conseguiam atingir uma certa idade não
possuíam identidade própria, só vindo a tê-la quando conseguissem fazer
coisas semelhantes àquelas realizadas pelos adultos, com as quais estavam
misturadas. Sendo assim, dos adultos que lidavam com as crianças não era
exigida nenhuma preparação. Tal atendimento contava com as chamadas
criadeiras, amas de leite ou mães mercenárias.
Vale ressaltar também que o tratamento dado a uma criança do sexo
masculino era, em muitos casos, diferente do tratamento recebido por uma
criança do sexo feminino, pois “as meninas costumavam ser consideradas
como o produto de relações sexuais corrompidas pela enfermidade,
libertinagem ou a desobediência a uma proibição” (HEYWOOD, 2004, p.76).
E sendo assim, a celebração do nascimento de uma criança se diferenciava
de acordo com o sexo da mesma. Um exemplo é a Bretanha do século XIX,
em que a chegada de uma criança do sexo masculino era saudada com três
badaladas de um grande sino, enquanto a chegada de uma criança do sexo
feminino era saudada com apenas duas badaladas e de um sino pequeno.
Até mesmo na arte a infância foi ignorada. “Até por volta do século XII,
a arte medieval desconhecia a infância ou não tentava representa - la. É
difícil crer que essa ausência se devesse à incompetência ou a falta de
habilidade. É mais provável que não houvesse lugar para a infância nesse
mundo” (ÁRIES,1981, p.50). Sendo que até o fim do século XVIII, não
existem crianças caracterizadas por sua expressão particular, sendo
retratadas então como homens de tamanho reduzido.
No século XIII, atribuíram-se à criança modos de pensar e
sentimentos anteriores à razão e aos bons costumes. Cabia aos adultos
desenvolver nelas o caráter e a razão. No lugar de procurar entender e
aceitar as diferenças e semelhanças das crianças, a originalidade de seu
pensamento, pensava-se nelas como páginas em branco a serem
preenchidas, preparadas para a vida adulta.
“A “descoberta” da infância teria de esperar pelos séculos XV, XVI
e XVII, quando então se reconheceria que as crianças precisavam de
tratamento especial, “uma espécie de quarentena”, antes que pudessem
integrar o mundo dos adultos” ( HEYWOOD, 2004, p.23). Fazendo assim com
que as crianças deixassem de ser misturadas aos adultos. Essa quarentena
foi a escola, que substituiu a aprendizagem como meio de comunicação.
A mudança de paradigma no que se refere ao conceito de infância
está diretamente ligada com o fato de que as crianças eram consideradas
adultos imperfeitos. Sendo assim, essa etapa da vida provavelmente seria de
pouco interesse. “Somente em épocas comparativamente recentes veio a
surgir um sentimento de que as crianças são especiais e diferentes, e,
portanto, dignas de ser estudadas por si sós” ( HEYWOOD, 2004, p.10).
Como pudemos perceber, a maneira como a infância é vista
atualmente é conseqüência das constantes transformações pelas quais
passamos, e que é de extrema importância nos darmos conta destas
transformações para compreendermos a dimensão que a infância ocupa
atualmente. “Este percurso (esta história), por outro lado, só foi possível
porque também se modificaram na sociedade as maneiras de se pensar o
que é ser criança e a importância que foi dada ao momento específico da
infância” (BUJES, 2001, p.13)
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